Friday, November 10, 2006

Jaz nela




Tudo que há
- Jazz nela
Tudo que nela entra
É pela janela

Lá fora
Tem luz, tem cor, tem vida
Tranca a porta
Mas isso l’aflora.

E nisso sentindo
Que está a sentir nada
Sente indo
Sentinela sem ti,
Das coisas que partem sem deixar pegadas.

Isso entendendo
Que está a entender nada
Como cápsula
Que se bebe em um agora
Para um efeito tardio

Quem garante que a pílula cura?
E se a dor de cabeça que não se cansar dela?

Lá fora
Por detrás da nuvem, é um lindo dia de sol
Isso l’aflora
Mesmo de dentro, pra fora.


Ádila Ágatha de Carvalho

Entre átrios e ventrículos auriculares...






Entre átrios e ventrículos auriculares...
Se é que pode, tamanha barbaridade.
Mas arre!
Tamanha situação,
Que pensei que morava nos olhos, o meu coração.

Olhos prosos.
Dilatam-se
Delatam-se
Abrem a janela da alma,
E pra escancarar a porta,
Não leva muito tempo.
... e até chegar a casa coração
Sempre avante,
Rumo ao meu infinito finito ao peito.

Olhos prosos,
Que devem de ter um sistema cardiovascular próprio.
Olhos que costumam marejar,
até com um leve sorriso.
Olhos que tendem a deixar nítido,
Aquele barco que vaga,
E cria portos utópicos,
Para não encarar-se como o próprio fantasma,
Quando sente-se assombrado.
Sendo o assustador,
O susto,
E o assustado...

Olhos que...
Que às vezes sorriem.
Mesmo quando a face se contrai.

Olhos que são negros como petróleo,
Olhos que são prosos.
Tendem a ser poço,
Pendem a ser porta...

Olhos que contradizem minha boca,
E me chama de mentirosa.

Ádila Ágatha de Carvalho


   *  Fala em silêncio

Algumas vezes preciso dizer calada.
Deixar nas entrelinhas da pálpebra
Deixar morrer a fala
Da íris delatora
Dilatada.
Algumas vezes preciso dizer calada.
Preciso dizer
Que não vou dizer nada
Que no céu da minha boca
Há nuvens que nem sempre chovem
Palavras soltas e nuas.
Nem mesmo um raiar,
Como um sol nascendo
De frases e versos se contorcendo.
Tecendo e só.
Que às vezes a minha fala
Não se cala
Apenas fala em silêncio.

Ádila Ágatha de Carvalho















Click no link ao lado para ouvir a poesia em forma sonora.



http://wagnerpyter.multiply.com/video/item/4

Amor comigo







Todas as vezes que faço amor comigo,
Sorrio...
Depois envergonho-me.
Mas sempre me amo.
Mesmo quando me odeio

Todas as vezes que faço amor comigo,
Mato a vontade
Mato a saudade.
Mato.
Mas não mato o amor.
O amor é suicida.
O amor é assassino.
E quando faço amor comigo,
Sou assassina e vítima.

E eis que me encontro,
Devoro-me,
Gozo-me,
Depois me deixo,
Como se eu fosse uma qualquer,
Sem importância.
Dou adeus,
Mas sempre volto na ânsia,
De amar-me outra vez,
Mesmo nos desencontros,
Mesmo com infinitas
Despedidas...
Mesmo quando me odeio.

Quando faço amor comigo,
Não sei quem sou,
Mas sei, quase sempre, quem gostaria de ser.
Otr’alguém,
Mesmo Zé ninguém.
Que o ‘eu’ é tonante,
E retumba solidão.
Que é só a mão
E a imaginação



Ádila Ágatha de Carvalho



Não sei se tenho,

Só se for na morada
D'essas que não é habitat
Mas se vive nela

N'uma que sequer é minha
Mas que Vi.vo,
Só não sei em que freqüência vi ou vô
Se é apenas um vagão,

No qual apenas vagamente
De maneira que não sabe ser-se permanente
Mas prefiro estar nela
Na morada de alguma casa no meu peito

Que fora do ecossistema do meu coração
Amante
Ante um sentimento que nem sei direito
Desses que se tem mais impulso que razão

Sei de mim
Enamorada
Só não sei se nela abriga
A vontade de ceder chão

Presse meu desejo fincar
E só pro agrado não se desgostar
Ei sempre de mudar o que for móvel de lugar
Menos esse sorriso que é meu

Mesmo na morada
Mesmo, namorada
Esse só.risinho
De estar e ser sol.zinho.


Ádila Ágatha de Carvalho

Tuesday, October 24, 2006

Travesti tempo.




Vou me esconder do tempo
Antes que ele venha possuir ainda mais meu corpo
Foi astuto,
Quando rabiscou-se no meu rosto
Fez semblante de mulher
Na menina que não vai morrer no resto


Malicioso,
Dando volume ao meu corpo
Involuntariamente,
Convivendo [vivendo com]
Como incumbência
De estar trancafiada
Dentro de uma borboleta
Sendo lagarta.

De carregar no visível mundaréu de ossos,
Um maior volume de carne
Ver gritar no peito o sexo feminino
Que menina já tinha.
Na sua falta de fel.

Mulher não condizendo
Moça sendo
Sem a obrigação de ser-la,
Feminina
Sem fé, menina
Atéia da obrigação de metamorfosear
Como se fosse de própria autoria
Abdicar!!!!

Mas é do tempo
Essa mulher outra
Que a cada dia
Mesmo com a imensurável agonia
Acabará por me alcançar
Estuprar-me até as lacunas.

Se é do tempo passar
E se for por ruas asfaltadas
As faltadas do meu temperamento infanto
Me dará mais hormônios
Que apego ao ninho
Corpo que em definho.

Ádila Ágatha de Carvalho

Tuesday, October 17, 2006

Que olhos esses. Quem olhar-me deles.




Que olhos esses,
Poros sem tato,
Que mesmo contato
Não comunica.

Que olhos esses
Pulso sem impulso
Pulsando parado
Que vai para o coração
Mostrar quem

Que olhos esses
Que pare lágrimas
Sem apego da boca,
beber o aperto.
... girar em círculos
... se fosse ciclo.

Que olhos esses
Eu sei que são meus
Afirmação com ponto de interrogação
Na íris
Do verso
Que , ora, é o inverso de mim

Que olhos esses
E quem olhar-me deles.
Pretos
Que nem falta
Que nem breu

Que olhos esses
E quem olhar-me deles?
Será que enxerga tamanha
Será que enxerga
Que olhos esses
Que sei que são meus
Janela
E haja nela
Vontade de pular.

E quem olhar-me deles
Meu Deus?
... Será

Ádila Ágatha de Carvalho


* Ao esconder dos outros

Esse meu

Que não sou eu
Porque será que me tomam
Já não bastam meus tombos
Agora me tomam os passos,
Nos outros que vou conhecendo.

Parece sina minha
Perder pessoa em ramo de saia alheia
Eu nem me engano que é só minha
Até mesmo a vontade de ficar sozinha

Esse meu que não sou eu
Para onde será que eles levam
Depois que me tiram
Atiram-me a queima-roupa
Aquela sozinhidão que nem é bala

Mas que abala tamanha
Tacanha
Até no engano de achar que é só minha
A vontade de ficar sozinha

- Vão me tirar.
Vão atirar.
Ah! Bala.
Ah! Tira.
Ah! Deus

Melhor nem saber quem me deu
Esse meu
Que não sou eu

Se não me tomam

Ádila Ágatha de Carvalho