Tuesday, October 24, 2006

Travesti tempo.




Vou me esconder do tempo
Antes que ele venha possuir ainda mais meu corpo
Foi astuto,
Quando rabiscou-se no meu rosto
Fez semblante de mulher
Na menina que não vai morrer no resto


Malicioso,
Dando volume ao meu corpo
Involuntariamente,
Convivendo [vivendo com]
Como incumbência
De estar trancafiada
Dentro de uma borboleta
Sendo lagarta.

De carregar no visível mundaréu de ossos,
Um maior volume de carne
Ver gritar no peito o sexo feminino
Que menina já tinha.
Na sua falta de fel.

Mulher não condizendo
Moça sendo
Sem a obrigação de ser-la,
Feminina
Sem fé, menina
Atéia da obrigação de metamorfosear
Como se fosse de própria autoria
Abdicar!!!!

Mas é do tempo
Essa mulher outra
Que a cada dia
Mesmo com a imensurável agonia
Acabará por me alcançar
Estuprar-me até as lacunas.

Se é do tempo passar
E se for por ruas asfaltadas
As faltadas do meu temperamento infanto
Me dará mais hormônios
Que apego ao ninho
Corpo que em definho.

Ádila Ágatha de Carvalho

Tuesday, October 17, 2006

Que olhos esses. Quem olhar-me deles.




Que olhos esses,
Poros sem tato,
Que mesmo contato
Não comunica.

Que olhos esses
Pulso sem impulso
Pulsando parado
Que vai para o coração
Mostrar quem

Que olhos esses
Que pare lágrimas
Sem apego da boca,
beber o aperto.
... girar em círculos
... se fosse ciclo.

Que olhos esses
Eu sei que são meus
Afirmação com ponto de interrogação
Na íris
Do verso
Que , ora, é o inverso de mim

Que olhos esses
E quem olhar-me deles.
Pretos
Que nem falta
Que nem breu

Que olhos esses
E quem olhar-me deles?
Será que enxerga tamanha
Será que enxerga
Que olhos esses
Que sei que são meus
Janela
E haja nela
Vontade de pular.

E quem olhar-me deles
Meu Deus?
... Será

Ádila Ágatha de Carvalho


* Ao esconder dos outros

Esse meu

Que não sou eu
Porque será que me tomam
Já não bastam meus tombos
Agora me tomam os passos,
Nos outros que vou conhecendo.

Parece sina minha
Perder pessoa em ramo de saia alheia
Eu nem me engano que é só minha
Até mesmo a vontade de ficar sozinha

Esse meu que não sou eu
Para onde será que eles levam
Depois que me tiram
Atiram-me a queima-roupa
Aquela sozinhidão que nem é bala

Mas que abala tamanha
Tacanha
Até no engano de achar que é só minha
A vontade de ficar sozinha

- Vão me tirar.
Vão atirar.
Ah! Bala.
Ah! Tira.
Ah! Deus

Melhor nem saber quem me deu
Esse meu
Que não sou eu

Se não me tomam

Ádila Ágatha de Carvalho